Não é só um hotel, mas também não é apenas um coworking. É mais do que isso, é um novo conceito de hospedagem que junta coworking, hotelaria, coliving e mall. É um espaço UFO – de outro mundo.
Essa é a marca e missão do UFO Space, que em março deste ano, anunciou parceria com a Rede Plaza na criação do UFO Space Plaza. O projeto piloto, com previsão de término em 18 meses, conta com o retrofit de todo o espaço do hotel e das duas torres, uma destinada à hotelaria (com 16 andares) e outra ao coworking e coliving (9 andares).
Muito além de apenas um espaço de convivência, é também um espaço de inovação e transformação para revitalização do espaço urbano e oportunidades de negócios internacionais.
Nós conversamos com Walker Massa, fundador e CEO do UFO Space, para entender como os hotéis coworking estão construindo o futuro da hotelaria corporativa:
Qual o perfil do público que ocupa o hotel coworking?
O projeto do UFO envolve unir dois tipos de público. Nós temos o público de hotelaria, que é estimulado a usar o coworking quando necessita, e o público do coworking, que é estimulado a usar a hotelaria quando necessita.
Por exemplo, nós temos um cliente que é um NOC (network operation center), são 110 pessoas, mais ou menos, que ocupam um andar inteiro desse coworking. Eles realizam conferências anualmente e convidam, aproximadamente, 500 pessoas que já reservaram, para fevereiro de 2020, 75 quartos de hotelaria. Então, nós temos um coworking que está levando público para o hotel.
Há também públicos de hotelaria que, ao ter a informação que há um espaço de coworking, que pode ser contratado tanto as salas de reuniões quanto os espaços compartilhados, acabam se hospedando e realizando reuniões no coworking.
Basicamente, vocês juntam o melhor dos dois mundos.
Eu venho do mercado de coworking e entendi que, ao inserir o coworking na hotelaria, a gente tem o que você falou, o melhor dos dois mundos. Por isso que se chama UFO, porque a marca é um veículo, um instrumento, que reúne mundos diferentes: o coworking com a hotelaria.
O UFO Plaza faz parte do projeto HUB, que junta hotelaria, coworking, coliving e mall. Como isso funciona?
Primeiro, estamos analisando vários hotéis pelo Brasil. O projeto implica, até 2022, a criação de 8 ambientes UFO, um em cada capital brasileira selecionada.
A gente faz um retrofit [modernização] no lobby do hotel, para que tenha o mesmo tipo de experiência de um shopping. O lobby passa a se tornar uma área de interação, convívio, com alterações de coworking rotativo, café e restaurantes, pensados para criar interação-público além da hotelaria.
Eu posso ter café, gastronomia, posso sentar para fazer reuniões e posso comprar produtos. A recepção do hotel, inclusive, é convertida no modelo coworking, onde a gente tira a recepcionista de trás do balcão e passa a ter totem de atendimento e uma hostess que recebe ambos públicos, tanto de coworking quanto de hotelaria.
Parte do hotel é convertido em coworking, a outra parte do hotel é convertido no coliving, onde temos usuários que podem adquirir quartos em períodos maiores e que também pode usufruir dos espaços compartilhados.
No caso do Plaza, como são dois prédios, a gente manteve um como hotelaria e o outro, uma combinação de coliving e coworking. Ainda, a gente cria e produz os eventos de empreendedorismo e inovação, dentro desse complexo.
Por que juntar o hotel coworking e por qual motivo o UFO Plaza é o primeiro?
Na verdade, tem alguns fatores que nos fizeram escolher o Plaza. O primeiro porque venho de Porto Alegre, então tinha conhecimento maior do mercado local. O segundo ponto é que o Plaza já reúne as condições síndicas para a implantação de uma primeira unidade.
São dois prédios mid e o lobby é o mesmo para os dois. O Plaza São Rafael é um hotel famoso no Rio Grande do Sul e, apesar de desatualizado – ele necessitava de um retrofit – tem uma ampla área de eventos.
O conjunto todo tem 26.000 m². Essa combinação nos permite produzir eventos corporativos e ter diversos espaços que podem ser convertidos no UFO, considerando hotelaria, coworking, coliving e um lobby grande.
Hoje, a maioria dos hotéis midscale ou econômicos têm um lobby muito pequeno. Os hotéis mais clássicos tinham lobbys maiores e nós preferimos que seja grande, porque faz parte da experiência de atrair, não só o hóspede, mas também as empresas em torno da cidade. Outros públicos passam a ocupar esse complexo, que não apenas o hóspede hoteleiro.
Como vocês se vêem nesse cenário de crescimento do mercado de coworking no Brasil?
Primeiro, como eu vejo, a gente tem que distinguir duas abordagens. Uma é o coworking como espaço física isolado que, apesar de já ter entrado no Brasil lá em 2009, já está bastante conhecido. Você tem vários espaços de coworking instalados no Brasil.
Quando você incorpora isso para dentro da hotelaria, existe outro potencial, que o coworking sozinho não tem e que a hotelaria sozinha não tem, que é entender o skill do hóspede. Se esse é um hóspede de negócios, quem é esse profissional? Em qual segmento ele atua e qual é a atividade que o traz à cidade?
Se nós pudermos captar essa informação, a gente pode gerar a esse hóspede um networking específico de seu interesse, conectar ele a outros atores empresariais da cidade e trazer a ele alguma solução para o problema que veio resolver na cidade. Quando ele volta para a cidade de origem, leva toda essa bagagem e uma nova conexão.
Então, conectar o hóspede da hotelaria com o jeito coworking de ser, é uma outra abordagem. É o software, não hardware. Não é o prédio ou o espaço, mas a forma de integração. Em relação a isso, existe um mercado gigante, pouquíssimo explorado. Inclusive, não é Brasil isso, estamos falando de mundo.
Eu tive um sabático percorrendo vários hotéis na Europa e posso dizer que a conexão do hóspede de negócios é praticamente inexistente, e pode ser, dentro da minha visão, explorado enquanto coworking na hotelaria.
Vocês têm escritórios em outros países. Teria alguma articulação entre esses espaços de coworking, algo como um networking internacional?
Nós temos escritórios de negócios na Suécia e Canadá, e já estamos articulando mais um em Israel e outro na China.
Quando a gente transforma esse hotéis no ambiente UFO, uma das nossas camadas de receitas adicionais é criar um escritório de cooperação internacional, baseado no modelo de paradiplomacia, que busca unir academias, empresas e governos, aproximando esses atores de cada país.
Na Suécia, por exemplo, nós temos convênios com universidades, a câmara de comércio exterior, a embaixada brasileira e acesso à agências de inovação suecas. Se a gente entender que há oportunidades de negócios entre as empresas brasileiras e os hóspedes, nós fazemos essa conexão.
Então, vocês estão ressignificando mais do que apenas o espaço do hotel.
A gente entende que, porque esses espaços atraem novas empresas e hóspedes, têm o potencial de ancorar a revitalização urbana e para que seja de fato impactante, é preciso de um mix de ocupação e cooperação.
Por isso, a ideia do projeto do UFO Plaza é atrair empresas com algum tipo de atividade que traga desenvolvimento econômico e social para a cidade, para coabitar a parte corporativo.
Por exemplo, a empresa NOC trabalha com Big Data relacionado à urbanismo. Nós também estamos atraindo empresas sustentáveis que trabalham com conversão de energia convencional para energia fotovoltaica e estamos buscando ONGs que trabalham com re-urbanismo, porque normalmente esses hotéis clássicos estão no centro da cidade, então revitalizar o centro é importante.